Lá está a mocinha no quintal da casa caminhando inocentemente quando aparece do nada o vampiro e CRAW! O olho do telespectador "vê" nesse momento em fração de segundo a imagem do conde. Uma mensagem subliminar. Posteriormente ao vê-lo de fato seu cérebro já sabe quem é o vampiro.
Todo vampiro teve uma história íntima de relacionamento com o sangue na infância.
Certa vez entrevistei um vampiro, não tão famoso quanto o Conde, mas muito mais ativo do que ele.
Recebeu-me em sua asquerosa residência onde fui convidada a sentar em um sofá preto de couro. Uma doméstica serviu-me algo da cor do vinho tinto. Desconfiei.
"Acidentalmente" derrubei a mistura fina no tapete e, oh! que horror, o líquido em poucos segundos coagulou. Porque não coagulara na taça fiz promessa de jamais contar a ninguém.
O vampiro, agora já falecido, contou-me que na sua melancólica infância na fazenda do seu avô foi obrigado por este a capinar sob o sol causticante. Os pais do menino tinham morrido de uma peste qualquer. E, não obstante o chapéu de palhas cobrindo-lhe a cabeça, o calor dilatava suas artérias provocando assim uma hemorragia nasal, que descia pela sua garaganta e atravessava o seu esôfago indo atingir o seu estômago e ali era digerida.
Na sua boca o gosto peculiar do sangue vivo foi acostumando e pervertendo o seu paladar pouco a pouco. Com o passar dos dias foi tomando gosto pelo sabor quente do seu próprio fluido vital.
Um dia seu avô lhe perguntou:
- Por que estás tão pálido meu filho? Viste alguma assombração?
- Não meu avô, eu mesmo sou a assombração - ele não teve coragem de contar a verdade ao seu avô. Temia-o por demais.
Claramente o vampirinho apresentava sintomas de anemia. Porém não sabia. Apenas sentia-se fraco, muito fraco, cada dia mais fraco. Pior: Tão viciado estava naquele néctar morno, que descendo pelo seu interior aquecia a sua alma abandonada pela sorte, passou a provocar o sangue, com cortes de canivete, às escondidas.
A anemia minava-lhe o vigor. Já não conseguia parar em pé debaixo do Sol mais do que uma hora. Aquilo foi alimentando um pavor de ser descoberto pelo temido avô. Escondia-se na estrebaria durante o período de trabalho para não ser descoberto vagueando a esmo pelo campo.
Em meio aos cavalos chorava copiosamente o seu destino a ponto de os equinos deixarem escapar uma lágrima de comoção. Passados alguns dias se deu conta da força de seus companheiros que passavam noite e dia em pé sem se queixar de fraqueza ou cansaço. Foi quando teve uma idéia, uma terrível idéia. Sua condição mórbida estava o transformando em uma criatura disposta a qualquer atrocidade para sobreviver.
Alguns meses depois, estando na cozinha do casarão, ouviu seu avô comentar com um empregado:
- Perdi um cavalo esta semana. Quero que tu descubras o motivo. Ele não estava sequer doente. Ao ouvir isto o menino entrou na sala onde os dois conversavam e explicou com a autoridade de quem fala a verdade:
- Os morcegos atacaram o seu xodó esta noite vovô. Pude escutar do meu quarto ele se debatendo.
- Eu sempre tive receio daqueles morcegos, mas não pensei que fossem capazes de tanto - exclamou o avô crédulo e soltou um suspiro prolongado.
O menino calou-se satisfeito. Acabava de obter a sua primeira vitória sobre aquele velho sem coração e sem noção. Agora estava a caminho da libertação. Não dependeria mais dele. Apenas dos cavalos.
Transcorrido um breve momento de silêncio paralisante seu avô levantou novamente a cabeça e fitou a infeliz descendência, fazendo viva observação:
- Como estás corado meu filho.
Nos anos que se seguiram aquele fazendeiro foi contemplado com a morte de 12 cavalos puro sangue. Sua mente o atormentava em pesadelos diários. Não conseguia entender a razão de tamanho infortúnio. O fato se espalhara pela vizinhança.
O menino se tornou um rapaz forte e robusto. Apaixonou-se por uma amiga de cavalgadas. Os dois enamoraram-se e encontravam-se secretamente por causa dos pais dela pois ela só tinha 14 anos.
Foi ela mesma quem se ofereceu:
- Por que tu não mordes o meu pescoço ao invés de passar o canivete nos inocentes cavalos?
Ele parou, pensou e consentiu.
Que garota era essa? Queria dar ao seu amado não somente a sua carne mas também o seu sangue. Tristes dias se passaram e enfim aquela donzela renegada entregou a sua vida. Morrera de amor. Louco amor. Principiante amor.
Daí em diante, o adulto vampiro trocou os cavalos pelas mulheres. As damas da redondeza temiam sair na rua à noite. Seus relatos incríveis impressionavam, suas marcas no pescoço testemunhavam de um ataque, contudo, mesmo com toda a evidência as pessoas se recusavam a acreditar no que elas diziam.
Porque era algo mais do que bizarro, era algo impossível de acontecer.
Incredulidade. Ah! desgraçada. Graças a ela o vampiro levou à frente o seu vício medonho sem nada que o impedisse. Ninguém jamais descobriu a sua identidade secreta:
- Eu mesmo sou a assombração.