-Você é Alemã?
-Sou descendente de alemães.
O cara ao meu lado se apresentou. Um sotaque medonho.
-Sou árabe.
-Árabe mesmo? Nascido lá no Oriente?
-Sim.
Parecia perturbado. Eu só ouvindo e ele só torrando os judeus.
Fiquei um pouco contrariada e ele percebeu o meu desgosto. Pensava nos meus amigos judeus. Que são pessoas de bem.
Pause.
No musical da Evita Perón tem uma parte que diz assim: quem manda no governo é o sujeito que está atrás do presidente.
Play.
O árabe defendia muito a engenharia.
-Porque meu filho faz engenharia, porque engenharia e engenharia...
Pronunciava engenheria.
Que vontade de gritar: Pelo amor de Alá pára de falar de engenharia.
Logo desviou pra o lado da guerra.
-Os judeus querem o nosso petróleo. Os judeus mandam no presidente americano.
Pause.
Saí do ar. Viajei viajando. Quer dizer que a tal guerra é só mais um pega-pega entre judeus e árabes?
Play.
O velho amargurado manquejava de uma perna, carregava uma muleta. Descemos no mesmo ponto. Ele apoiou-se no meu braço e me acompanhou até o ponto de táxi. Nunca mais nos vimos.
Tá. E daí?
Sem graça. Mundo sem graça. É sempre a mesma história.
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