terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Teoria da Conspiração




Hoje o banco me avisou que vai me mandar um cartão com chip. Legal. Hoje depositei 100 reais no envelope na minha conta corrente.

Ultrapassado. Dinheiro em cédula é coisa arcaica. Ademais, dinheiro não devia ser concreto. Devia ser abstrato, onipresente e seguro. Como o pensamento. Ninguém toca, ninguém rouba e ele sempre está lá.

Só se for um... chip? Essa não. Satélites me vigiando 24 horas é big brother eterno. Vai chorando que se a moda pega... E antes que isso aconteça ou algo parecido eu espero me juntar àquela tribo indígena lá no meio da Amazônia que nunca viu o homem branco.

E se você ainda está soluçando pare por um minuto descanse e se console porque existe algo pior do que ter um chip implantado na mão ou no braço ou na perna. É ter um chip implantado dentro do cérebro. Já viu aqueles mapas neurológicos de atividade cerebral? Então. Não é possível alguém saber exatamente o que você está pensando mas é possível ter uma idéia, pelas zonas cerebrais ativadas. É pior que big brother, é pior que Orkut, é pior que bina, é pior que cartão corporativo. Quer saber? É o fim.

Portanto ser assaltado é uma liberade que nós temos hoje em dia. Do ladrão, infelizmente. Pensar pensamentos só nossos sem interferência, também é uma liberdade. Essa de todos. A não ser que o seu olho brilhe, daí eles vão descobrir que você está apaixonado.

Em tempos de dinheiro abstrato assalto assumiria outra nomenclatura: sequestro seguido de anestesia total e corrupção de cirurgião para o transplante de chip após adulteração de dados com falsificador hacker.


sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O Rabinho do Rabanete



Já viu rabinho de rabanete? É impressionante. É. Um simples rabinho.

Vou dizer por quê.

Eu estava fazendo uma salada de rabanete. A receita mandava pôr cebolinha e iogurte e rabanete. Então eu peguei a tábua de cortar e apanhei os rabanetes e a faca e pus-me a cortar os rabinhos dos rabanetes. Afinal, quem gosta de comer rabinho de rabanete? Hum, é algo inusitado comer rabinhos, não é?

Mas, porém, todavia, contudo, entretanto, quando eu levantei a faca pra cortar o primeiro rabinho - eram quatro rabanetes ao todo - o rabinho se mexeu e eu pude ouvir um gritinho de dor. Parecia pedir piedade. "Por favor não me corte, vai doer, vai sangrar e o rabanete vai morrer".

Eu estava diante de um fenômeno. Um rabanete que se comportava como rato. Quem sabe na outra encarnação ele foi um rato. É. Você duvida. Mas eu cheguei a cogitar essa hipótese. E esse pensamento me fez ter receio de pegar o rabanete. Ratos transmitem doenças, sabe como é...

Eu iria desvendar aquele fenômeno. Ah, ia. Sabe, sempre que eu não entendo alguma coisa eu fico pensativa, às vezes me deito na cama e fico refletindo. E não acho explicação rápida, 99 por cento das minhas tentativas. E nem sempre tenho tempo para continuar refletindo indefinidamente até encontrar a resposta. Outras vezes disponho de tempo, mas a mente cansa. Nos piores casos, as idéias se chocam, as peças não se encaixam, e o esforço mental me dá dor de cabeça. Então desisto e me levanto e, ou desisto ou deixo pra continuar a 'matutação' outra hora.

Quando o mistério é grande fico perturbada. Nem sempre conscientemente. Tenho pesadelos. E a angústia é grande. Muito grande. É como tentar resolver um problema de matemática daqueles bem difíceis. Só que frequentemente há um agravante: A falta de dados. Aí tenho que sair perguntando pra todos os fulaninhos que tem parte na história. E não é na hora que eu quero. É quando a oportunidade surge.

Se não faltam dados sobra ignorância sobre o assunto em questão. Daí corro pra os livros ou pra internet - a internet é uma benção.

A melhor coisa pra atacar um grande problema é desistir dele primeiro. É algo que me dá uma força incrível pra enfrentá-lo. Porque depois que eu desisti, não corro o risco de ficar arrasada se tudo der errado. Quero dizer, o que vier é lucro. Então, vamos lutar pra vir, não é? É uma maneira de fugir da sensação de fracasso. Sentimento devastador esse, consome as energias e detona a autoconfiança.

Voltando ao rabinho do rabanete. Enojada como eu estava do rato-rabanete - aí está uma ligação do reino animal com o vegetal que eu não tinha me dado conta - passei a picotear a cebolinha. E a cebolinha me fez arder os olhos e chorar. E chorar e chorar e chorar.

E enquanto eu chorava em cima da tábua de cortar legumes, ouvi um grito:

-O rabanete está fugindo.

E outro grito:

-A cebolinha vai te pic...

Aai! Gritei. A cebolinha não me picou, e o rabanete parou de se mexer.


Ah, faltou a explicação do fenômeno. Não se desespere. A resposta sempre vem, mesmo que você tenha que se angustiar por ela.