domingo, 8 de março de 2009

O Sofisma de Pablo





O sonho de Pablo era ser advogado. Mas não qualquer advogadozinho. Queria ser um desses creditáveis advogados, que falam sempre a verdade.
Então era isso que fazia de Pablo um piá único: ele queria falar sempre a verdade.
Já na faculdade de Direito, se chegava atrasado não dava desculpa furada.
- Ah professor é que um azulzinho me atacou justo quando eu estava chegando.
Não.
- Passei a noite na delegacia por dirigir embriagado. Quebrei o farol do Corolla na batida e a loura se salvou graças ao air-bag - o dela.
Que professor não ficaria emocionado com uma verdade dessas? Um aluno pegador de loura siliconada não é um mané. Portanto não leva cartão amarelo.
Ficaram algumas dúvidas no ar, evidentemente:
- Por que tu não pegaste um táxi?
- Teu chofer tava de férias?
- Bebeu mais do que podia?
Ele não esperou, já foi respondendo, com a verdade:
- Loura siliconada sem álcool e sem carro? Só se for o cabelereiro dela.
Chegou a formatura e ele jurou perante os doutores e a platéia que no exercício da sua profissão lutaria pela justiça e blá blá blá, até que a morte me separe dela - a justiça.
Falou a verdade e somente a verdade.
Alguém ainda gritou da arquibancada: e serei amante da corrupção.
Neste instante ele respondeu ao juramento: Sim. Abaixou o braço e sentou-se. Um murmúrio seguido de silêncio invadiu o auditório. Nenhuma autoridade se manifestou. Estava jurado!
Com a carteira da OAB no bolso trabalhava na sua primeira defesa. Teve que jurar sobre a Bíblia que diria a verdade. E jurou! Pela sua própria cabeça.
Sobre o cucuruto do réu pendia a espada da justiça humana e sob seus pés um calabouço estava por se abrir - o da condenação.
Acusado de comprar ilegalmente marfim trazia um crucifixo no pescoço.
A única testemunha jazia inerte a um canto coberta por um manto de veludo: uma criselefantina. Assentado o juiz ergueu-se o pano e Oh! que beleza, uma escultura em marfim vestida de ouro encheu o salão de admiração.
- Meritíssimo! A acusação alega que essa majestosa criselefantina foi encontrada em posse do réu, que é escultor. E além disso este não soube explicar a não existência de nota fiscal nem falsa nem verdadeira para a compra do marfim. No entanto, essas notas na minha mão, são todas verdadeiras.
A acusação protesta. Não há nota alguma na mão do advogado de defesa.
Pan Pan Pan
O juiz solicita que Pablo reinicie a defesa.
Pablo diz que sabe o que está dizendo e prossegue, sem intervenção.
- Meritíssimo existe alguma nota na minha mão que seja falsa? Não. Então todas as notas que estão na minha mão são verdadeiras.
Pan Pan Pan
O réu é declarado inocente.
Acredite! O último que contou essa história ainda está com a boca quente.


sábado, 7 de março de 2009

Presente de Carnaval



Lula pedindo votos no Carnaval. Cada camisinha um voto.
O carinha pára na frente da guria, já na cama, na posição de guerra, ou melhor, de amor - ainda vale o antigo refrão "não faça guerra faça amor" - ergue a camisinha orgulhoso, estufa o peito e gaba:
- Oh, ganhei do Lula.
A guria levanta um ar de dúvida e antes que ela pergunte "Jura?" ele confirma:
- É sério.
E acrescenta: - Vou votar nele na próxima eleição. O Lula vai ser o rei do Brasil. Lula aqui embaixo e Deus lá em cima.
- Ai amorr, deixa disso. Só porque Carnaval é tempo de fantasia não precisa exagerar, né?
- Olha aqui, eu já disse, eu tô falando sério.
A essa altura o climão já era. Era glacial. Pra piorar a situação o carinha se irrita, sacode a guria e implora:
- Fala que acredita. Fala.
Com voz arrastada: - Tááá booom eu aaacreeediiitooo.
- Fala que eu sou o rei agora. Fala.
Vigoroso: - Meu rei.
- Isso, mais alto.
Gritado: - Meu rei.
- Isso, agora sim.
O carinha abre o pacotinho suando às bicas, veste o guarda-chuva de passarinho e levanta a embalagem enquanto olha pra o céu:
- Valeu Pai.
Agora traz a embalagem em direção à boca e beija-a:
- Valeu Lula.


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O falso protesto



Uma vez numa terra longínqua há muitos anos alguém se tornou meu inimigo. Com letras capitais: INIMIGO. E eu não gostava nadinha desse inimigo. Queria que ele se manifestasse contra mim para que eu tivesse chance de desmascará-lo, de combatê-lo. Mas nada acontecia.

Eu bem sei, ele me maldizia pelas costas. Logo eu que não tenho culpa de nada. Justo eu que sempre fracasso em tudo e, portanto, não tenho motivos para ter inimigos.

Pois bem, como era de se esperar, planejei uma ação coordenada. Seria assim: eu picharia - euzinha mesma - uma parede da minha casa: PERSSONNA NON GRATA
Ato contínuo faria queixa na delegacia de polícia.

Talvez as pessoas não saibam que eu sou dada a uma pichação. Básica. Spray preto.
Acho magnífico o dourado, o prateado. Ainda não experimentei. Nem sei se vou. Afinal, valorizo a liberdade.

Então picharia a minha própria parede em protesto ao meu inimigo. Autodestruição? Loucura? Não. Estratégia.

O detalhe é que o meu inimigo era pessoa muito conhecida e inclusive detendo poder político e social. Mas nem de longe tão querida quanto eu. Digo eu, o personagem da minha história. Não me metam nessa confusão por favor.

E a reação foi exatamente aquela que eu esperava. Caiu todo mundo em cima da cabeça do meu inimigo. Bem, demorou um tempinho até as autoridades se certificarem que fora ele o autor do crime.

O coitado tentou se defender, apresentou álibi e tudo mais. Só que eu como tinha fama de falar sempre a verdade ganhei a causa. Eis aí o instrumento mais poderoso de engano que existe: a fachada de santidade. A dissimulação.

Foi assim que eu consegui desarmar o meu inimigo, antes que ele se levantasse contra mim pra me destruir. Com o provérbio alemão: A ação tem um impacto mais poderoso do que a palavra.


terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Meu primeiro texto




Encontrei uma pérola esse fim de semana no meu quarto. É o primeiro texto que eu escrevi. Depois de grande, claro. Nada de redações sobre árvores e familiares, lá do primário. Nunca fui ruim em redação. Aliás, sempre fiquei acima da média. Meu segundo melhor score no vestibular foi redação.

Não obstante nunca imaginei que poderia escrever um blog de textos. Só porque me deram um empurrãozinho mesmo. E agora eu não consigo mais parar. Não posso mais parar. Fiquei dependente. Viciei.

Então voltando ao assunto inicial o tal do texto é uma iniciação à numerologia. Alguma parte copiei do Terceiro Motivo, de Malba Tahan. Aí vai:

A propósito, quem inventou o ano de 12 meses só podia ter sido a igreja mesmo. Afinal, foram 12 os apóstolos, foram 12 as tribos de Israel, 12 os fundamentos da Nova Jerusalém...

Note que o mês lunar - período entre duas lunações iguais - tem 29,5 dias, e o mês civil 28 a 31 dias. Se o mês civil tivesse 28 dias - o que seria vantagem para as mulheres com ciclo regular, pois não teriam mais que calcular a data da próxima menstruação - teríamos 365 = 13 * 28 + 1, ou seja, 13 meses de 28 dias mais um dia sobrando - que poderia ser decretado feriado.

Outra curiosidade: os sacerdotes pagãos adoradores do sol usavam amuletos com quadrados mágicos 6X6 que somavam 111 horizontalmente, verticalmente e diagonalmente. Logo as seis linhas e colunas somavam 666. Acho que você já ouviu falar desse número não é?

Este número simbólico repete o 6 três vezes porque o 3 é a veneração dos pagãos. O número três para o pitagóricos - os seguidores de Pitágoras, aquele matemático do triângulo retângulo, você deve saber - era tido como um número divino. O sete era o número sagrado. O quatro simbolizava o mundo material.

Até hoje os sábios e os doutores que analisam os mistérios dos Ritos e Símbolos, não descobriram a razão de ordem social ou moral pela qual o Al Corão fixou em quatro o número de esposas legítimas que um bom muçulmano pode trazer para a sombra do seu lar.

Por que não cinco, sete ou mesmo treze? Estudem os filósofos e matemáticos esse problema que se apresenta até agora como insolúvel.



quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Miraflor




As ondas quebravam no azul do mar celeste.

A leste o sol a aquecia com seu calor.

Nenhuma gota caía na pele macia de Miraflor.

Miraflor estava nua, sua cútis crua atraía a luz radiante

Galante, alguém a contemplava.

Lá em cima, murmurava:

Que menina!

Nuvens densas se interpõem entre Miraflor e o seu admirador.

Que horror!

O vento norte balança o pé de Miraflor.

A chuva de verão rega o pé de Miraflor.

Miraflor sai do banho perfumada.

Alada, voa ad infinitum.

Adeus terra.

A Deus.


segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Ele disse que não é fiel




- Eu não sou fiel - ele me disse.

Meus Deus! E eu que pensava que ele era um cafajeste. Ainda me lembro bem da primeira vez que nos encontramos, foi quando nos conhecemos, claro. Eu não acreditava que ele fosse boa pessoa. No caminho pra casa, no trem de superfície - ele me acompanhou até a minha cidade - eu lhe fiz uma pergunta ingênua:

- Como vou saber se tu não vais me fazer mal?

Ele respondeu algo que era verdade, embora eu não tenha levado a sério. Não confiava nele de maneira alguma. Mas gostava dele e estava decidida a saber que tipo de pessoa ele era antes de desistir de tudo.

- Um cafajeste não sai do seu campo de ação - foi a resposta dele, mais uma explicação do que uma resposta.

Ali à frente eu iria me certificar que ele não era uma cara mau de fato. Aliás, nunca conheci pessoa tão sincera.

Agora, anos depois nos reencontrávamos e ele me perguntava se eu sentira saudades. Eu não sentira muito, mas como ele estava radiante de me encontrar, disse que havia sentido. Até porque fiquei feliz em revê-lo e isso de alguma maneira era prova da minha saudade.

Depois de um breve interrogatório sobre a minha vida corrente, me veio com esta:

- Eu não sou fiel.

Realmente ficou confirmado de uma vez por todas, ele não era um aproveitador de mocinhas do interior.

Mais: O que levou esse indivíduo a crer que eu sou fiel?

Só porque eu gostei dele no passado?

Ou pelo meu jeito de ser, de me portar?

Quem sabe ele ficou cuidando pra ver se eu olhava pra outros rapazes?

Muito revelador este ocorrido. Mostra pelo menos um motivo pelo qual os homens sentem-se tão ofendidos quando se sentem ou se descobrem traídos por uma companheira mulher. Eles simplesmente pensam que nós somos fiéis por natureza. Aquela velha ladainha que os homens são diferentes das mulheres.

Eu seria mesmo fiel àquele carinha se nós tivéssemos ficado juntos. Pelo menos enquanto eu gostasse dele. E depois? Eu poderia traí-lo com outro e abondaná-lo pra ficar com esse alguém.

Não teve um sujeito iminente que disse que tudo é relativo?

Só queria dizer que os homens não são assim tão diferentes das mulheres e sim o que eles pensam e desejam, porque a educação deles é diferente da nossa.

Enquanto os homens pensarem assim vão continuar cometendo crimes passionais e se afundando no álcool e se desiludindo das mulheres por causa de seus chifres totalmente inesperados. Acho que é por isso que se diz no meio masculino "chifre é como consórcio". "Quando o cara menos espera é contemplado". Quer dizer que os homens via de regra são pegos de surpresa.

Ainda sobre os raciocínios equivocados dos homens. A maioria dos machos classifica as mulheres em apenas dois grupos: damas e vagabundas. Se a mulher é um pouco mais fogosa que o normal já entra pra o time das putanas. Se bem que às vezes, putana pode soar como elogio. Como quando dizem: a esposa perfeita é aquela que é uma dama na sala e uma puta na cama.

Ah, tinha um conhecido que sonhava ter uma mulher que fosse dama na sala, puta no quarto, empregada na cozinha, faxineira no banheiro, lavadeira na área de serviço...

E outro mais esperançoso que este dizia que a esposa perfeita era aquela que fosse uma dama até o dia do casamento e neste dia se transformasse em vagabunda.

Um terceiro ansiava por ter uma mulher que fosse meio dama e meio vagabunda, na casa inteira evidentemente.

E ainda um quarto desejava muito ter uma mulher que não fosse nem dama nem vagabunda. Ficou solteiro sem dúvida.

E por último um quinto almejava ter duas esposas: uma dama e uma vagabunda.

Na vida real as mulheres podem ser bem diferentes do que os homens são capazes de conceber. Só pra ter uma idéia: sei de uma mulher que enquanto fazia sexo não gemia aiaiaiai. Nem tampouco ficava muda à moda tenista russa. Adivinha o que ela fazia?

Gritava alface alface alface. É que ela gostava muito de alface gente.

Também conheci uma mulher que na hora do clímax sexual esperneava e gritava:

- Arginina alpha ketoglutaratoooooo.

O namorado dela ficava constrangido. Ele não entendia o que aquilo significava, o que ela queria dizer com aquilo. Até o dia em que ele perguntou pra ela e aí ela explicou direitinho:

- Ah, amorrr. É que a AAKG me dá um prazer fenomenal. É isso.

Então ele também quis tomar a tal arginina alpha ketoglutarato. Daí ele sentiu na pele o que ela queria dizer com arginina alfa keto glutaratooooo.

No fim o cara teve um piripaque e veio a falecer. Só então descobriram que ele tinha um problema renal e por isso não podia tomar AAKG.

Moral da história: Nunca vá atrás da conversa de uma mulher.

Ah, Adão que o diga.