O Comitê Olímpico Internacional agregará uma nova modalidade esportiva: o vôo. Nada surpreendente. É que devido ao aumento de moléculas poluidoras no ar do Rio de Janeiro, a densidade do mesmo se aproximará um pouco da aquática. Resumindo, o vôo olímpico será o nado aéreo, que é o próprio nado, porém dificultado pela menor densidade do meio e pelo medo de altura. Por falar nisso 1000 pés será uma boa altura para a execução do nado aéreo.
A Comissão Julgadora fará banca em um dirigível. A Tribuna de Imprensa marcará presença (como sempre) em monomotores (com direito a filmar a prova de arco e flecha lá de cima). E a população ordinária pagará ingresso para ver essa acirradíssima disputa de dentro do Paralelepípedo de Ar (um objeto voador identificado). Este IFO será fabricado pela Air France e controlado por 12 computadores de bordo infalíveis e não-sujeitos a bug (que o último bug não existe todo mundo sabe mas este será uma excessão).
É mister avisar que o preço do ingresso será bastante caro pois incluirá em seu valor o seguro de vida. Também é de bom tom informar aos desavisados para que não levem laptops ou celulares, claro. Isso porque em caso de naufrágio, digo, queda livre, diminuirá potencialmente o prejuízo.
Nos 4 anos que antecederão a Olimpíada de 2012 os EUA produzirão um novo fenômeno a quem chamarão de o homem-pássaro. Com suas enormes e flexíveis mãos de 60,3 cm ele se moverá no ar rarefeito como um bimotor. Este novo recordista mundial disputará 12 medalhas de ouro, uma ousadia nunca dantes vista. Além dos dois motores este atleta será dotado de braços muito corpulentos, muito mais que o próprio corpo, o qual terá a dimensão de uma perna. Só assim ele poderá nadar, digo, voar, acima da velocidade do som. Esta jóia do atletismo será o primeiro, único e último homem super-sônico. Só lhe faltarão mesmo as asas para que ele seja considerado um homem evoluído a ave. Ah, o principal, ia me esquecendo de dizer. Ele não acumulará ácido lático. Portanto, poderá voar ininterruptamente, ou, pelo menos, enquanto tiver energia.
Essa maravilha da aerodinâmica contará ainda com um traje especial, o Mach 12, uma carapaça com bico fino capaz de levantar-se na arrancada, que o permitirá desenvolver uma velocidade igual a 12 vezes àquela do som, isto é, 12*340 m/s. Tal indumentária também será a prova de aviador americano pois será feita de um material que repelirá pilotos inexperientes e terá dispositivos estabilizadores capazes de manter a posição do corpo até mesmo na ocorrência de ciclones, furacões, tornados, tsunamis e suas variantes.
Outro feito inédito: Eles o testarão sobre o Triângulo das Bermudas, para ver até onde vai a sua habilidade, pois se porventura for derrubado sairá nadando e estará a salvo; e é justamente aí que ele baterá o seu maior auto-recorde. Isso porque terá que fugir a nado daqueles monstros marinhos que engolem esquadras e esquadrilhas inteiras sem sequer arrotar.
Além dessa nova modalidade esportiva acrescentarão também, pelos mesmos motivos, o vôo sincronizado e as acrobacias aéreas, estas últimas, semelhantes às da FAB no sete de setembro, serão a grande novidade, pois não correrão o risco de sofrer qualquer acidente. Agora uma predição que alegrará os brasileiros: o Brasil será o grande campeão no vôo sincronizado para delírio dos espectadores e torcedores, que relaxarão e gozarão nas suas casas e no Paralelepípedo de Ar.
Em suma, a Olimpíada de 2012 deixará todos embasbacados, apalermados, paralisados, boquiabertas, estupefatos, muitos morrerão do coração (pois que morrem mais pessoas por causa de notícias boas do que ruins) e os que sobreviverem ficarão para sempre impressionados. Em todos os recantos deste Planeta a torcida coruja não dormirá jamais mas estará 24 horas com os olhos e os ouvidos plugados na TV digital, no rádio do carro, na internet banda larga e nos jornais e revistas flutuantes, os quais poderão ser lidos até dentro da banheira de aeromassagem nos hotéis de luxo (porque só neles haverá essa modernidade do conforto), sem precisar segurar com as mãos.
As pessoas passarão o tempo inteiro trocando comentários admirados pelo celular, pelo BlueTooth, pelo 3G, pelo e-mail, pelo scrap, pelo blog; gravarão as imagens fantásticas nos DVD´s, nos Blu-Rays, nos MP4´s através de câmeras fotográficas e filmadoras digitais; não darão descanso nenhum segundo para os jornalistas, para os jornaleiros, e os redatores, também os editores, os revisores, os tradutores, os repórteres, os locutores, os assessores de imprensa, enfim, os comunicadores em geral.
As paredes, e muros e estradas encher-se-ão de posters e outdoors vendendo artigos esportivos com as imagens dos aero-atletas (cabe observar que o super-homem não se assemelhará nem de longe ao homem-pássaro no quesito velocidade ultrasônica, mas ficará devendo e passará vergonha). Os publicitários desprezarão toda a gentalha inclusive os melhores tenistas do mundo como seus garotos-propaganda, também os Ronaldinhos da vida e as meninas do vôlei.
Porém, o final dessa odisséia olimpiadística trará consigo a desilusão, à volta ao mundo imaginário, digo, ao mundo real (já dizia um amigo filósofo que o mundo real é o mundo imaginário e o mundo imaginário é o mundo real ) e a censura ao elogio sem crítica. Isto porque os arapongas e demais agentes secretos passarão os 12 dias das provas aéreas conversando em códigos Morse, criptografando escutas telefônicas, recolhendo bilhetes e documentos oficiais e lendo livros especializados sobre o assunto do momento: o esporte aéreo.
O desfecho dessa investigação será precedido por uma onda de pixações reveladoras: O homem-pássaro é uma farsa. Por fim será apresentada toda a verdade: o nado aéreo, e o homem-pássaro, e o vôo sincronizado, e as acrobacias aéreas nunca existiram. Estas ditas modalidades esportivas foram apenas encenações feitas com cabos de aço (à la Tigre e o Dragão, ô filme bom esse assisti várias vezes) apagados digitalmente em Hollywood. E finalmente as luzes se acenderão e o lanterninha abrirá as portas de saída do cinema.