- Mariiia joga a chave.
- Eu não a estou achando meu bem.
- E agora Maria? Eu perdi a minha chave.
- Entra pelo túnel das telecomunicações.
- Do que tu estás a falar Maria?
- Este mesmo canal por onde entram as ondas eletromagnéticas.
- Ora Maria. Estás a me gozar.
- Não estou. Tu que estás a duvidar.
- Se tu me disseres onde se localiza a porta desse túnel, eu entrarei.
- Pega uma escada, uma bem alta que alcance as nuvens, onde se propagam as ondas eletromagnéticas, e pega carona com elas. Elas te mostrarão a porta.
- Mas Maria, eles são bem mais magrinhas do que eu, a porta deve ser um tanto estreita, e eu não conseguirei passar através dela.
- Meu bem tu conseguirás. É só o que posso te dizer.
- Até logo Maria. Aguarde-me um instante.
- Como chegaste rápido José.
- Tu não sabes a quantas por hora viajam as ondas eletromagnéticas?
- Eu já ia me esquecendo. Então como foi teu dia?
- Tal como saiu no jornal Maria.
- Tu não saíste no jornal José.
- Todas as notícias estão atrás do jornal.
- És tu que estás a me gozar, porque quando viro o jornal para trás a fim de ler sobre o teu dia, tuas notícias se movem para trás dele, e assim nunca consigo alcançá-las, como um cachorro que tenta morder o próprio rabo.
- Deixa isso pra lá Maria. Permita-me navegar agora nessa tua onda eletromagnética. Larga dessa pia.
- O celular está tocando. Não vais atendê-lo?
- Não estou de plantão nesta noite Maria. Venha logo se não vou navegar nas ondas da televisão.
- Já estou indo. Não vá me trair com a TV.
- Mas enquanto tu te demoras eu me distraio com o meu 3G.
- Estás me traindo com a Internet?
- Não Maria. Tu és muito desconfiada.
- Decerto sou. Está aqui a tua chave.
- Tu me enganaste Maria?
- Eu acabei de encontrá-la no bolso do teu casaco.
- Não creio que ela estivesse lá. Eu a procurei em todos os cantos.
- Tu desconfias de mim?
- Não só desconfio como acho que tu estás me traindo.
- Vamos acabar já com esse mal-entendido.
- De que maneira Maria? Eu simplesmente devo pôr de lado a minha tiara de cornos e ajeitar a minha cabeleira?
- Tu estás delirando.
- Pois que esteja. É que não consigo mais confiar em ti desde que tu me enganaste. Adeus Maria.
- Não meu José. O que tu vais fazer é uma loucura. Há de haver uma explicação.
- E a quem tu vais imputar a culpa?
- Foram as ondas, só pode, foram elas que colocaram as chaves no bolso do teu casaco assim que tu chegaste. Elas a tinham escondido certamente.
- Teremos que conversar sério com elas.
- Por favor. Não vá expulsá-las. São elas que nos comunicam com o mundo. Sem elas voltaríamos à idade da pedra.
- Venha cá Maria. Perdoa-me essa desconfiança.
- Oh meu José. Por pouco tu me deixavas. Vamos fazer um voto: Nunca nos deixaremos, mesmo que as más ondas infernizem o nosso casamento.
- Sim Maria. Olha ali atrás da cortina. Elas estão rindo de nós.
- É que a falta de comunicação acaba com qualquer relacionamento. Elas estão rindo da tua precipitação.
- Ah Maria. É duro ter que te dar a razão.
- Vês como é importante a comunicação?
Nenhum comentário:
Postar um comentário