sábado, 16 de agosto de 2008

Para comunicólogo ver



- Mariiia joga a chave.

- Eu não a estou achando meu bem.

- E agora Maria? Eu perdi a minha chave.

- Entra pelo túnel das telecomunicações.

- Do que tu estás a falar Maria?

- Este mesmo canal por onde entram as ondas eletromagnéticas.

- Ora Maria. Estás a me gozar.

- Não estou. Tu que estás a duvidar.

- Se tu me disseres onde se localiza a porta desse túnel, eu entrarei.

- Pega uma escada, uma bem alta que alcance as nuvens, onde se propagam as ondas eletromagnéticas, e pega carona com elas. Elas te mostrarão a porta.

- Mas Maria, eles são bem mais magrinhas do que eu, a porta deve ser um tanto estreita, e eu não conseguirei passar através dela.

- Meu bem tu conseguirás. É só o que posso te dizer.

- Até logo Maria. Aguarde-me um instante.

- Como chegaste rápido José.

- Tu não sabes a quantas por hora viajam as ondas eletromagnéticas?

- Eu já ia me esquecendo. Então como foi teu dia?

- Tal como saiu no jornal Maria.

- Tu não saíste no jornal José.

- Todas as notícias estão atrás do jornal.

- És tu que estás a me gozar, porque quando viro o jornal para trás a fim de ler sobre o teu dia, tuas notícias se movem para trás dele, e assim nunca consigo alcançá-las, como um cachorro que tenta morder o próprio rabo.

- Deixa isso pra lá Maria. Permita-me navegar agora nessa tua onda eletromagnética. Larga dessa pia.

- O celular está tocando. Não vais atendê-lo?

- Não estou de plantão nesta noite Maria. Venha logo se não vou navegar nas ondas da televisão.

- Já estou indo. Não vá me trair com a TV.

- Mas enquanto tu te demoras eu me distraio com o meu 3G.

- Estás me traindo com a Internet?

- Não Maria. Tu és muito desconfiada.

- Decerto sou. Está aqui a tua chave.

- Tu me enganaste Maria?

- Eu acabei de encontrá-la no bolso do teu casaco.

- Não creio que ela estivesse lá. Eu a procurei em todos os cantos.

- Tu desconfias de mim?

- Não só desconfio como acho que tu estás me traindo.

- Vamos acabar já com esse mal-entendido.

- De que maneira Maria? Eu simplesmente devo pôr de lado a minha tiara de cornos e ajeitar a minha cabeleira?

- Tu estás delirando.

- Pois que esteja. É que não consigo mais confiar em ti desde que tu me enganaste. Adeus Maria.

- Não meu José. O que tu vais fazer é uma loucura. Há de haver uma explicação.

- E a quem tu vais imputar a culpa?

- Foram as ondas, só pode, foram elas que colocaram as chaves no bolso do teu casaco assim que tu chegaste. Elas a tinham escondido certamente.

- Teremos que conversar sério com elas.

- Por favor. Não vá expulsá-las. São elas que nos comunicam com o mundo. Sem elas voltaríamos à idade da pedra.

- Venha cá Maria. Perdoa-me essa desconfiança.

- Oh meu José. Por pouco tu me deixavas. Vamos fazer um voto: Nunca nos deixaremos, mesmo que as más ondas infernizem o nosso casamento.

- Sim Maria. Olha ali atrás da cortina. Elas estão rindo de nós.

- É que a falta de comunicação acaba com qualquer relacionamento. Elas estão rindo da tua precipitação.

- Ah Maria. É duro ter que te dar a razão.

- Vês como é importante a comunicação?

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